Pai, mãe...

21 de set. de 2008 - não enviada por CamilaRufine
Boomp3.com

Desde a última conversa que tivemos, muita coisa mudou, não só para mim. Imagino como deve ter ficado a cabeça de vocês ao saberem que a garotinha “que nunca deu dor de cabeça” era só uma casca fina que cobria um monstrinho deprimente.

Foi estranho. Tanto porque pela primeira vez em 22 anos eu os fiz chorar, quanto pela decepção em perceber que eu estava certa enquanto escondi tudo, por achar que vocês não me entenderiam. Eu até gosto de ser um enigma, mas só dessa vez eu esperava ser entendida...

Entretanto, acho que isso não é função dos pais, ou é? Que eu saiba, pais são ‘feitos’ para educar, sustentar, dar amor, segurança e se responsabilizar por aquilo que resolveram, planejadamente ou não, colocar no mundo. Isso, sim. Entender, não.

Em contrapartida, nós, filhos, devemos respeitar, obedecer, mostrar que o investimento feito está sendo bem utilizado e ainda retribuir todo o amor que nos foi dado, mesmo que amar não seja o nosso forte. Tudo isso, menos exigir entendimento. Compreensão talvez, caso tenhamos sorte.

Foi chato e vergonhoso para mim, expor feridas que, por terem sido feitas voluntariamente, vocês julgam que não me doam. Mas que machucavam antes mesmo de terem sido feitas. Não é culpa de vocês, repito. Não está no contrato, nem no inexistente best-seller “Como ser um bom pai”. E mesmo que tivesse, esse livro seria tão difícil de encontrar quanto o “Manual de Instruções da Mulher”.

Não pretendo me matar, só porque disse que não gosto de viver. Sou covarde. Não estou solteira por vergonha de estar acima do peso e não sofro por causa daquele único ‘ex’ que vocês souberam da existência. Há tantas coisas que vocês não sabem e continuar mencionando assuntos antigos, me deixa envergonhada pelos dois. Eu estava bem, até aquele dia em que me deparei com a decepção nos seus olhos e os suspiros doídos.

Mas tudo bem. Se vocês acham que o melhor para mim é ser o padrão, tenho que concordar. Ultimamente tenho dado tantas bolas foras e ser do contra não me deixa em vantagem nenhuma. Prometo ainda: enquanto eu depender financeira e emocionalmente de vocês, ambos continuam dando as cartas.

Voltarei a ser a filha que vocês adorarão ostentar para irmãos, amigos e sociedade. E eu vou agradecer a vocês quando – e se – no futuro eu conseguir um bom emprego e um bom partido. Aí vou ser obrigada a concordar que vocês tinham razão e que não fez diferença nenhuma a época que engordei, por causa da bebida, festas e churrascos que me renderam desinibição, papos cabeça e requinte de humor ao lado de amigos que me ajudavam a parar de pensar na falta de lógica e na perversidade que é pertencer a esse mundo.

Desde já, obrigada.

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2 Response to "Pai, mãe..."

  1. Paula de Assis Fernandes Says:

    Dona Camis...
    sabe, eu não sou mãe, ainda... e sei que nem deveria comentar em algo assim tão íntimo, mas vamos lá.
    às vezes é muito mais fácil pra gente entender... mesmo que a gente não aguente mais, que a gente se estresse, que a gente não queira entender mais nada.
    mas é que os pais sempre idealizam a gente... e, mais que ninguém, eles sempre esperam mais da gente que os outros. mais até que a gente sabe que a gente pode... porque se a gente pudesse tudo que eles acham que a gente pode...
    e não ache ruim se ele se incomodam por descobrirem um facezinha da gente que a gente não gosta de mostrar... é que, pra eles, a gente é o melhor deles. tudo que eles tinham de bom, investiram na gente... aquele lance de minha filha vai ser melhor que eu, vai ser médica (porque é bem mais fácil ter estabilidade como médica que como jornalista, convenhamos...:P), vai ser magra (porque eles sabem que a gente não se sente feliz em não entrar naquele jeans que amamos), vai ser a mais inteligente, a mais bonita, a mais amiga, a mais confiável, a mais tudo...
    e, às vezes, quando eles percebem que não é do jeito deles... que o melhor deles mesmos já não é parte deles... talvez doa um tanto que a gente só pode imaginar...
    descobrir, mesmo, a gente só vai saber quando - e se!!! - passar pela mesma situação...
    por isso, minha amiga, entenda. e, aos poucos, mostre pra eles que a Camila que você é também é maravilhosa, à sua maneira. Talvez não como eles esperavam, mas como você é. e, no final das contas, é o que importa...
    se cuida, querida!
    beijo!

  2. Graci Says:

    Camislaine...

    Talvez já tenhamos falado demais sobre seu texto no msn, antes mesmo desse texto aparecer no blog, mas este é assunto que não se esgota, por mais que a gente tente esgota-lo. E também é assunto que sabe doer, justamente porque a gente não quer que eles sintam dor e decepção, o que é uma droga, pq se não nos importássemos, não dava tanta discussão.
    Ás vezes eu sinto que faço coisas que não deveria, falo o que não poderia também. E depois penso que eu não deveria ter feito, enfim... Não sei... Vamos construir um conceito e uma solução para esse dilema, que também atormenta minha vida.